terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Osho International Meditation Resort

Segui viagem de Goa a Mumbai, e no dia seguinte fui de carro a Puna ao meu grande destino, o Osho International Meditation Resort. Estava apreensiva com uma mistura de sentimentos. Já tinha escutado tantas criticas mas no fundo eu sabia que era exatamente aquilo que eu precisava.
Logo na entrada fui acolhida por um dos assistentes que fez uma brincadeira sobre os brasileiros, o que me pareceu que éramos muito bem recebidos naquele lugar. Ele me conduziu ate outra sala para que eu preenchesse formulários, comprasse os dias de entrada e fizesse o teste de HIV. Este teste que me atormentara meses, com mil fantasias do que me esperava naquele lugar com "um bando de loucos" (era a expressão que tinha escutado de um amigo). Mal sabia que talvez eu pudesse ser a maior "louca" de todas... rs
Enfim, apos meu cartão de entrada ficar pronto, me dirigi a loja para comprar os famosos robes vinho e branco. Durante o dia usamos o robe, ou bata, vinho e a noite para a atividade noturna, o branco. Tive uma reunião para explicação de todas as atividades e meditações, e aquilo tudo parecia para mim um parque de diversões de tantas atividades acontecendo ao mesmo tempo com milhares de pessoas circulando no seu robe vinho. Haviam inúmeros cursos que poderia me inscrever enquanto estava la também. Levei a lista e fiquei pensando qual curso escolher.
A primeira meditação que fiz apôs toda a introdução foi a Kundalini Meditation. Essa meditação acontece todos os dias a tarde no auditório principal que e uma pirâmide gigante. La não e permitido nenhum som, mesmo se estiver com vontade de tossir ou espirrar, aconselham a sair da sala o mais rápido possível. Fiquei fascinada com aquela pirâmide e estava começando a adorar a ideia dos "uniformes". Me sentia na estória da Morgana ou alguma feiticeira medieval dentro daquela imensa construção com meus coleguinhas bruxinhos. A Kundalini Meditation consiste em 4 estágios: sentir a energia subir e permitir movimentos como um tremelicar e ao som da musica deixar o movimento fluir, a dança espontânea, a meditação sentado ou em pé, e o shavasana ou relaxamento deitado. Para mim que já pratica a Kundalini Yoga há mais de 10 anos, aquela meditação foi um prazer imediato. De repente estava tao feliz e já flutuando.
Apos o banho e com o robe branco me dirigi a piramide novamente para o encontro noturno. La comecavamos dançando com pequenos intervalos para enraizar o pé no chão e tomar consciência do seu plexo solar e com os bracos levantados gritávamos "osho", o que poderia ser qualquer mantra, já que a intenção era se conectar com sua forca interior. Apos a dança uma meditação seguido pelos ensinamentos do Osho no video. Apos os ensinamentos, acontecia o gibrish onde tínhamos que inventar uma língua e de maneira catártica e fluida deixar acontecer. Pausa para meditação no qual o Osho sempre lembra para sermos nossos próprios observadores, ate na hora de simularmos a morte (sem mente, sem corpo) e despertarmos como Buda. Por fim, dança novamente.
Apos o jantar vi que tinha um pessoal dançando na plaza e fui conferir. Adorava como as pessoas dançavam, desprendidas de qualquer julgamento e facilmente me interagi na pista de dança. Ainda insegura do ambiente e tentando captar a vibe do lugar preferi ir para cama cedo.
Dormi feito uma pedra e na manha seguinte as 6am começava a meditação mais importante do dia, a Dynamics Meditation. No wonder it calls dynamic... Uma meditação ativa de 1 hora começando com uma respiração do fogo ou kapalabati não ritmada usando o corpo para ativar a respiração por 10 minutos, depois 10 minutos gritando, chorando, rindo ou imitando uma criança, 10min pulando com os bracos levantados, sola dos pés batendo no chão com o mantra Ho, 15min de estatua congelando o corpo onde parou no toque do sino e 15 minutos dançando. Sai de la pingando, encharcada, como se tivesse saído de um banho. Aquilo para mim ainda era muito esquisito e não estava conseguindo entender os benefícios das meditacoes exceto o da kundaini que virou minha preferida nos primeiros dias.
Apos o banho e o cafe era hora de optar por qual atividade seria a minha rotina durante aqueles 15 dias. Escolhi o zen archery (arco e flecha zen) e o tai chi. Praticávamos no Buda Grove, uma construcao de mármore ao céu aberto cercado por bambus onde o Osho costumava dar seus ensinamentos. Hoje em dia era o local de algumas atividades diurnas e o Dance Celebration que acontecia no fim da manha. O Dance Celebration, já o próprio nome diz, reunia todas aquelas pessoas vindas de todas as partes do mundo com musicas de diferentes países.
Aos poucos fui entendendo que o Osho dava a importância para as pessoas liberarem sua criança interior, e todos os prazeres mundanos como o Deus grego Zorba. Segundo ele, todo o ser humano encarnado deve aproveitar suas condições de humano e usufruir de todos os prazeres, para então ser um Buda. Então fui percebendo que muitas pessoas ali estavam para serem Zorba, curtindo a piscina, a quadra de tênis, dançando, bebendo, fumando, transando. E pessoas mais interessadas nas meditações ativas e nos cursos. Conforme os dias foram passando fui me acostumando com a ideia e respeitando todos sem julgamentos. Assim como vivemos e interagirmos com pessoas de todo o jeito, assim como qualquer ashram na Índia que as vezes se assemelham com "hospitais psiquiátricos", assim era também o Osho, pessoas apegadas ao prazer e pessoas em busca de algo a mais.
O que mais me cativava era a alegria de todos. O dia inteiro a gente dançava, e as meditacoes ativas cada vez mais fortes trazendo insights. Era um insight atrás do outro e como psicologa estava adorando as maluquices das meditacoes justamente porque liberavam todas as couraças corporais, traumas que ficam enraizados no nosso campo físico.
Patanjali dizia que o centro da personalidade humana esta no coração. Osho diz que a civilização moderna fez com que o centro se locomovesse para o cérebro pois hoje em dia nos somos muito mais racionais. As meditações ativas segundo o Osho servem para mover o centro do cérebro para o coração, de onde acontece todas as catarses, e onde curamos traumas que nem mesmo temos consciência pois como seres racionais não nos permitimos sentir. Lembro que na minha época de faculdade eu amava estudar Lowen e Reich justamente porque eles davam essa importância do quanto nosso corpo acumula sentimentos e traumas formando essas "camadas de mascaras" e o quanto durante a vida isso vai piorando se não houver uma conscientizacao e acao nesse trabalho corporal já que a mente, corpo e alma estão correlacionados. Concordo com o Osho e por isso dou valor as meditações ativas assim como a kundalini yoga ou kryia yoga que servem como limpeza de toda essa couraça que nos defende dos nossos medos e traumas.
Escolhi fazer um curso chamado Tantra Pulsation com a Prabodhi (excelente facilitadora que estará em SP em maio!!), onde aprendi a me conectar mais comigo mesma e com o outro, através de exercícios de respiração, dança espontânea, e meditação ativa olhando nos olhos do outro. Foram dias doloridos, pois alem do curso era sugerido fazer as 2 meditações ativas no auditório: a Kundalini e a Dynamics, mais o encontro noturno. E foi ai então que percebi o verdadeiro efeito das meditações, o porque das gritarias, o porque do choro, do riso, da morte, e da fala espontânea em uma língua criada por você. Foram inúmeros insights. Anos de terapia e não tinha dado conta de tantos sentimentos e travas que me aprisionavam, talvez um trabalho constante na categoria de seres humanos. Tudo o que fazia saiam lagrimas, foi uma limpeza absurda. As meditações foram ficando mais fáceis e mais leves, conseguia sentir a energia kundalini muito mais poderosa. O apoio do grupo foi me confortando e curando também, me permitindo a amar não só eu mesma, a Mãe Terra e o Universo, mas a descobrir o amor nos olhos de um companheiro. As danças que no fim meu corpo não conseguia mais parar de dançar, assim como os giros sufis que girava horas, sim horas sem parar em puro bliss. A pratica de tai chi e o zen archery foram ficando cada vez mais suaves com a mente muito mais neutra e o corpo leve peso pluma.
Dizem que 1 semana no ocidente equivale a 1 dia no oriente, eu não sei, mais sempre que estou na Índia me sinto mesmo em outra dimensão, parece que minha alma diz "ok, hora de trabalhar". 'E tudo tao intenso, profundo. Ate agora não consigo entender como foram apenas 15 dias... sinto que foram 5 anos e de terapia constante!
Foi difícil partir pois estava tao acostumada com a rotina e os amigos, mas tive uma surpresa quando cheguei ao aeroporto rumo a Amritsar com escala em Delhi, e o voo tinha sido cancelado por conta da neblina em Delhi. Iria a Amritsar para visitar o Templo Dourado, me encontrar com o querido Marco e a sangha, agradecer a todos os mestres Sikhs por todas as bencaos... Mas acho que o Osho não me deixou partir, ou talvez minha alma pediu para ficar mais alguns dias desfrutando de tudo aquilo, um pouquinho de Zorba, um pouquinho de Buda, dançando, girando, agradecendo, agradecendo, agradecendo... sim sim sim... para voltar mais leve, mais em sintonia comigo e todos, e para expandir toda essa energia sendo nos meus retiros e workshops ou ate mesmo num simples olhar. Namaste!

www.osho.com
http://www.oshopulsation.com/prabodhi-mildenberg.html
http://www.koerperreich.com/deutsch/page5/page6/index.htm

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Yoga Magic - Goa, India 2015

Dezembro... la estava eu novamente embarcando para a Índia! Dessa vez, um novo chamado. Não estava a procura de um ashram para receber as maravilhosas bencaos de um guru, meu coração e alma pediam movimento e expressão. Queria aprender mais sobre a dança,  meditação ativa e a yoga como forma de expressão do Ser.
Esta viagem tiveram 2 destinos: Goa por alguns dias e Puna.
Escolhi Goa por dizerem ser uma cidade totalmente diferente da Índia, uma região colonizada pelos portugueses e a fortíssima influencia católica na região. Goa 'e conhecida pelas lindas praias, feiras indianas, e por ser o berço da musica Trance. Mas o meu forte interesse em Goa era conhecer uma eco-vila chamada Yoga Magic, o qual encontrei seu destaque no livro "Great Retreats- Yoga".
Com poucas informações, fui com uma amiga me aventurar na praia de Arjuna.
Quando chegamos nos deparamos com acomodações rústicas, o que nos desafiou nas primeiras noites mal dormidas por conta dos diversos sons de pássaros e animais, pela preocupação das redes de mosquito instaladas nas camas e pela claridade que entrava nas primeiras horas do dia. Mas foi facilmente superado com a rotina do retiro e a amorosidade dos funcionários que nos fizeram sentir em casa.
O casal de ingleses proprietarios do espaço, Ishi e Phil, apos muitas viagens a Índia seguindo os ensinamentos de Babaji (Jangalidas Maharaj) e Shirdi Sai Baba tiveram um forte chamado de construir seu "pequeno ashram" em contato a natureza e praticas regulares de yoga para seus hospedes. Ishi dava 2 aulas diárias de yoga (exceto nos dias de feira que atraia vários turistas) enquanto Phil ficava encarregado da administração do espaço.
Nossa rotina era meditação de 45min iniciando sempre as 6am nas salas rústicas de adobe e sape, seguido por um intervalo de chá, jala neti (tecnica do yoga para limpeza pela cavidade nasal), e a pratica de yoga na qual exigia muita atencao para não pisar nas amiguinhas minhocas que adoravam caminhar pelos tapetinhos de yoga.
As refeições vegetarianas eram simplesmente maravilhosas... E durante o dia tínhamos que garantir nosso lugar na agenda do concorrido Vishnu, um massagista indiano que segundo a lenda curava qualquer tipo de dor. A tarde tínhamos outra pratica de yoga com a Ishi, e entre as praticas, massagem e minhas próprias meditações, gostava de ficar ouvindo o Phil contando suas estórias do Babaji.
Tinha contado para o Phil que seguia sozinha a Puna para aprender as meditacoes ativas do Osho, e ele carinhosamente queria me convencer de que eu deveria conhecer seu guru. Guardei todas as informações do ashram mas no fundo sabia que não iria precisar.
Foram dias nutrindo o corpo, a mente e a alma. Comemoramos o reveillon num restaurante grego muito animado, mas o mais lindo era observar os casais e as famílias indianas nas mesas e na pista de dança. A minha admiracao por essa cultura cresce a cada viagem que faço... A pureza em cada olhar, em cada carinho, na dança, e em cada sorriso faziam com que meu coracao se enchesse do mais puro amor.
Visitamos o centro de Goa, a Velha Goa e suas catedrais estilo barroco que se assemelham muito com as nossas. As praias no norte de Goa também tem muita influencia europeia, com tendas, lojas e restaurantes excelentes.
No ultimo dia, tivemos uma surpresa com a vinda de um ator britânico famoso no Yoga Magic. Na verdade para mim foi uma lição, ou aqueles "insights indianos", o primeiro deles... Porque eu nunca gostei de nenhum filme dele, para ser sincera eu o achava um "idiota" e mesmo nas entrevistas me questionava o porque daquele sujeito fazer tanto sucesso... e la estava ele, jantando a mesa ao lado, meditando com o grupo, fazendo a mesma rotina, com uma suavidade no olhar e um tal magnetismo que aos poucos fui desvendando o mistério de seu sucesso... o golpe fatal foi perceber uma de suas tatuagens, o símbolo do Sikhismo... Fiquei sem palavras, mas fazia todo sentido. E para mim, ficou mais uma vez a questão dos rótulos e julgamentos fruto das armadilhas da nossa mente e do nosso personagem. Como e libertador sair do conceito, da ilusão, da ideia formada. Sem querer cair em outra armadilha, rotulando o nosso famoso ator novamente, não quis perguntar sobre a tatuagem ou fazer uma nova estorinha. Simplesmente segui meu caminho, em direção a Puna com gratidão aos meus mestres Sikhs por criarem mais espaço na minha mente e no meu coração...

http://www.yogamagic.net/

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Peregrinação e Auto-Conhecimento nos Andes com Marco Schultz

Voltei há pouco tempo de uma das viagens mais preciosas da minha vida. Neste momento me desafio a colocar em palavras todo aprendizado e processo desde o dia que cheguei ao solo sagrado andino.
Estava programando esta viagem há alguns anos com meu querido mentor Marco Schultz, e finalmente este ano pude realiza-la. 
Foram 15 dias intensos com visitas a ruínas, contato com a cultura inca, yoga, meditação, xamanismo, e profundo auto-conhecimento em 4 dias na trilha de Salkantay. De Cusco, ao Vale Sagrado, ate a deslumbrante chegada a Macchu Pichu com uma linda turma de 27 integrantes.
Fiquei encantada ao chegar em Cusco. Uma cidade linda, com varias praças, ruas de paralelepipido, catedrais, vista para as montanhas, e uma mistura de turistas e comerciantes pelas ruas que deixava a cidade ainda mais interessante.
A visita a Cusco foi estratégico para o processo de aclimatação a altitude. Já no aeroporto nos ofereceram folhas de coca e na recepcao do hotel o chá de coca era servido a vontade. Mesmo tomando todo o cuidado pude sentir tonturas e dores de cabeça nos primeiros dias. A falta de ar estava presente nas caminhadas as ruínas.
Os dias em Cusco foram também de muita cultura com guias maravilhosos. 
Para os Incas, existiam três níveis espirituais, o mundo de cima, conhecido como Hananpacha (o mundo dos espíritos), o mundo do meio, conhecido como Kaypacha (o mundo dos homens) e o mundo de baixo, conhecido como Ukupacha (o mundo dos mortos). Os Incas criaram então a trilogia andina, representada pelo Condor, Puma e Serpente, animais muito sagrados, e cada um destes animais trabalhavam como guardiães dos mundos supra citados, onde o Condor era o guardião do mundo de cima e mensageiro entre céu e terra, o Puma do mundo do meio e representa a forca da terra, e a Serpente do mundo de baixo que representa a sabedoria. No tempo dos Incas os homens viviam entre os três mundos e se relacionavam com eles através da trilogia totêmica, dos animais sagrados. Porém, com o tempo, o homem se isolou e perdeu a conexão com todos os mundos, inclusive com o seu próprio mundo. Dai então, vem o ensinamento da sociedade secreta "Orden del Condor de Los Andes", com uma proposta de resgate da alma, nos transmitindo a "Visão do Condor".
Pacha em quechua significa Terra, por isso o termo Pachamama, A Mãe Terra. Os Apus são espíritos das montanhas que não deixam de ser também um filho de Pachamama. Na visão dos andinos as montanhas são seres viventes, com um corpo físico que respira, tem esqueleto, pele, sangue e espirito. Por isso, subir uma montanha andina, não exige apenas do físico e mental, mas sim esta comunhão sagrada entre Pachamama e Apus. 
Aprendemos a fazer oferendas a Pachiamama de acordo com um principio quechua muito valioso, a reciprocidade. Oferecíamos 3 folhas de coca, e com um sopro colocávamos nossos desejos.
Já no Vale Sagrado tivemos um momento de mais introspeção em Wikka Tica, um pequeno ashram da querida californiana Carol que teve uma visão e transformou um terreno rochoso em um imenso jardim de arvores, flores e plantas de diversos países, divididos por cores representando os chakras.
A sensacao que tive quando pisei em Wikka Tica e que ja havia estado la. Não sei como mas nas minhas praticas de Yoga Nidra, o jardim que me imaginava para relaxar e conectar estava la! Foram dias de imersão com consultas com nosso amado xama, Sandeh, tratamentos terapêuticos, praticas de yoga, meditação, e muita contemplação a Pachiamama.
Marco pediu para que eu desse uma aula de yoga numa manha, e com muita honra e gratidão escolhi oferecer uma pratica de Kundalini Yoga, já que aqueles jardins nos remetiam a cura de nossos chakras, a simbologia da serpente na trilogia andina, e a espiral que simboliza Pachiamama e que havíamos visto desenhados e construídos com rochas em todos os locais de poder inca. Como se os incas soubessem do poder da energia kundalini dentro de nos assim como o poder de todo universo. Vale uma pesquisa da relação inca com o surgimento da simbologia da kundalini que e representada pela espiral e a serpente. Talvez, e por que não, os incas foram os grandes primeiros yoguis??...
Inspirada a véspera da trilha de Salkantay, fizemos um ritual em uma das espirais, local de poder inca, onde batizei meu cajado com o nome "fé". Fizemos uma cerimonia xamanica também para nos proteger nos dias seguintes de trilha. Estava "preparada", assim achava. Atleta e ex-corredora de montanha, estava segura em relação ao meu condicionamento físico e experiência do que levar em situações climáticas adversas. A minha única preocupação era a altitude. 
A noite, véspera do primeiro dia de trilha, não consegui dormir ardendo de febre, passando mal com diarreia e vomito. Dormi por meia hora e levantei sem febre um pouco antes da hora marcada para saída. Fraca e debilitada pela noite anterior, não conseguindo comer ou beber nada pois ainda estava passando mal, caminhei durante o dia no nosso primeiro trecho ao lado do meu cajado "fé", entoando os mantras de proteção da Kundalini Yoga, avistando a montanha de Salkantay de longe, e pedindo para que Pachiamama e Apus me levassem. Já nesse primeiro dia de trilha, tantas fichas caíram... aniquilando meu ego, compreendi de que nada servia ser uma atleta para subir aquela montanha afim de chegar a terra sagrada de Macchu Pichu. Precisei de todo esse processo de sacrifício e limpeza para me dar conta de muita coisa.
Como se não bastasse o sacrifício do primeiro dia, amanheci bem melhor mas fui comunicada logo cedo que faria o primeiro trecho da trilha para o lago a cavalo para poupar energia para o terceiro dia que era a subida ao glacial. O grande problema do dia, era que desde os meus 16 anos de idade não me aproximava de cavalo algum por causa de um grave acidente que tive naquela época. Tentei convencer Marco e Sandeh que iria a pé, mas não teve jeito, todos nos sabíamos que teria que enfrentar o trauma, e aquilo fazia parte do processo. Não sei quanto tempo durou mas pareceu uma eternidade montar naquele cavalo. Revivi todo o acidente, um medo incontrolavel. Enfim, consegui ir me acalmando com as palavras do xama dizendo que eu era como um cavalo mas que naquele momento eu precisava da forca daquele animal. Fui interagindo com a energia dele e ao final do trecho parecia uma criança expressando minha gratidão com abraços e carinhos. Na chegada ao lago, uma visão indescritível, apenas contemplação e gratidão. Estava começando a entender que bencao e que oportunidade Pachiamama e Apus estavam me proporcionando. Apenas havia uma frase em minha mente, a frase do Prof. Hermogenes: " Eu entrego, confio, aceito e agradeço". 
No terceiro dia, mais forte apesar de ainda estar passando mal continuei caminhando com meus mantras e quando avistei a montanha se aproximando passou todo mal estar e parecia nova. Quando cheguei ao topo de Salkantay, senti uma energia incrível... ri, chorei, orei. Pedi para que Deus me confirmasse que estava ali, e veio o som das rochas do topo cobertas de neve rolarem montanha abaixo. Comunhão. Sim, sim, sim... Precisei de toda limpeza, como uma serpente que descasca e troca sua pele, aos passos de puma, forte e valente, para conseguir enxergar com olhos de condor o alem do alem, do alem...
Ao finalizar no quarto dia, completando aproximadamente 80 km de trilha, depois de passarmos por glaciais, mata, cachoeira e rio, chegamos ao nosso destino: Machu Picchu. Arrepio novamente só de lembrar da energia daquele lugar sagrado, que fomos recebidos com uma chuva auspiciosa na qual comemorei apôs meu renascer, este lindo batizado.
De volta pra casa, a vida segue, porem ainda mais expandida. Grata por cada momento, por cada licao, e pelo Amor Maior que não cabe em palavras... Apu!


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Vedanta

Outro dia tive a honra de ouvir a professora Gloria Ariera que deu uma aula sobre Vedanta no encontro do Grupo de Estudos e Evolucao da Consciencia e Meditacao em Sao Paulo.
Ela comecou explicando a origem, as ligacoes e relações desde a dança ate ayuverda com o Vedanta. Vedas significa "conhecer" e são escrituras sagradas do hinduísmo por volta de 1500a.c.
Segundo as escrituras nos tivemos e teremos diversas encarnações no plano terrestre. E voltamos para relembrarmos quem realmente somos. Como se faltasse um chip na nossa memória, esquecemos de tudo e viemos para este plano, no jogo de ilusões, onde pensamentos e emoções são criados pela nossa mente, e quanto mais somos dominados pela nossa mente, mais nos afastamos do nosso verdadeiro eu. Como se fosse um jogo, ou uma "lila" como dizem os hindus. E a magica da vida, e tirar todas essas camadas que nos aprisionam no personagem ou ego, para o encontro do grande mistério do infinito Eu.
Gloria explica que os "samsaris" são aqueles que vivem em constante altos e baixos, em "samsara". Sao aqueles presos nas necessidades básicas, ou seja, segurança e nos prazeres. Sao aqueles movidos por emoções. Aqueles que começam a ter Consciencia e questionar a vida e sua existência, são os yoguis. Os yoguis são aqueles que aprofundam no auto-conhecimento e investigam o Ser, são os peregrinos de alma que estão dispostos a se libertar de todas as camadas que ele próprio construiu durante sua vida.
De volta para casa apôs o encontro com a Gloria, fiquei pensando quando foi que eu me tornei uma yoguini, quando foi essa "rachadura" que abriu espaço na mente para tal consciência. Sempre tive a personalidade investigadora e o fato de escolher Psicologia como profissão e mergulhar no auto-conhecimento favoreceram a mente aberta. Porem, a "rachadura" mesmo foi quando ja alguns anos morando nos EUA, decidi mudar para California, e na época fazendo meu segundo mestrado em Terapia Familiar, decidi praticar Kundalini Yoga em um estúdio localizado em uma comunidade Sikh. Como ja disse em outros posts, foi ele, Guru Singh, meu primeiro querido e maravilhoso Babaji, que me ensinou tudo o que eu precisava saber para ir alem. Foi o melhor professor de qualquer mestrado, porque foi ele quem ensinou o que e família, o que e amor, e o que e servir. Sim, ele foi o grande "culpado" para muitos que falaram na época "o que aconteceu com aquela Patty?" Os anos se passaram e muitos mestres surgiram. Marco Schultz por exemplo que aprofundou ainda mais a minha peregrinação no "esquecer menos, lembrar mais" e faz parte da minha investigação do Ser hoje.
Este ano em Fernando de Noronha, me deparei com os samsaris curtindo as festas e contribuindo para  uma lenta destruição de uma reserva ecológica. Foram dias de sofrimento porque hoje em dia minha relação com os animais e a mae natureza se fortaleceram muito, e porque eu me vi ha anos atras assim como essas pessoas, sem consciência nenhuma, presa nas emoções e o que os outros diziam que era bacana. Talvez tivesse sido um teste para eu ter mais compaixão e paciência, não so por todos aqueles golfinhos e tartarugas que estão indo embora, mas por todas as pessoas que assim como eu, não querem o mal, mas apenas estão limitados a emoções e prazeres de samsaris, assim como estive um dia.
O caminho de um yogui, e um caminho sem volta. Não da para voltar a ser uma pessoa sem consciência. A cada dia são ensinamentos novos, são maneiras diferentes de resolver um problema, de olhar o mundo, de se relacionar com as pessoas e a natureza, de enfrentar suas próprias limitações, e ate quando voce acha que não tem abertura suficiente para perdoar e amar, este perdão e amor vem através de voce. E um desejo constante de investigação, iluminação, integridade. Um desejo de desvendar o Grande Misterio, honrando e acolhendo o karma, vivendo com mais consciência e, procurando realizar o dharma com muita fe e amor.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Turbantes Coloridos: Diversas Tribos, Uma Unica Sangha

Para quem não sabe, professores e praticantes de kundalini yoga usam turbantes ou cobrem as cabeças pois o principal foco dessa tecnologia e trazer a energia dos chakras inferiores para os superiores, fazendo com que a energia sutil desperte o seu Ser. O uso do turbante faz com que as temporas sejam pressionadas, estimulando a glândula pituitaria e consequentemente o sexto chakra localizado entre as sobrancelhas. De preferencia, o turbante deve ser branco para captar e concentrar mais energia.
Apesar de gostar e respeitar o branco nas vestimentas como uma professora de kundalini yoga, cores sempre fizeram parte da mim. Tanto na minha casa, como no meu consultório, quanto nas minhas roupas, e nos meus turbantes durante as aulas.
Talvez as cores definam minha integracao com o mundo. Gosto de ver o mundo colorido apreciando as diferenças e a individualidade de cada pessoa. Dificilmente enxergo o mundo preto e branco, antes devido a minha condicao de terapeuta e hoje muito mais com a yoga, afinal todos os pontos de vista são bem vindos, não existe certo ou errado, preto ou branco, e sim vários tons de cores.
A kundalini yoga representa para mim uma das cores mais lindas do arco-iris. E ela que me eleva, que me faz conectar com a energia sutil do Ser, e me leva para o estado de profundo "bliss", como um "natural high" ou êxtase, cada dia mais agradecida pela vida e por existir… Sim, profundo! Mas ela não e o único caminho, ou talvez eu precise de outras cores para completar meu eu.
Pratico todos os tipos de yoga, afinal yoga e yoga. Você terá os mesmo beneficios, talvez em níveis diferentes, mas os mesmos! Adoro a fluidez do Vinyasa, o alinhamento do Iyengar, o relaxamento do Nidra… Entoar os mantras védicos me faz conectar com a energia sutil também. E as diferentes meditacoes me faz experienciar inumeros beneficios.
E assim, em constante movimento transitando em "diferentes yogas", transito em diferentes situacoes na minha vida: obstáculos e conquistas, perdas e ganhos, alegrias e tristezas. Transito nas inúmeras personagens do meu ser: a professora de yoga, a praticante, a psicologa desportiva, a esportista, a mulher, filha….. Circulo em qualquer local, seja no boteco ou na festa "high society"… Tenho amigos de vários jeitos e varias tribos.
Sem personalidade? Não, apenas não me identifico com o unico. Sou curiosa e aventureira por natureza.


Há anos que a yoga faz parte da minha vida e por isso acabei me relacionando com muitas pessoas desse circulo. Adoro circular entre as diferentes tribos da yoga. Pessoas que conheci em retiros, viagens de peregrinacao, cursos… são tantas pessoas queridas que as vezes não nos falamos com frequência mas sinto a presença de todos muito intensamente.
Alguns dias atrás conclui mais um curso de formacao que durou o ano todo. Não tem como essas pessoas do curso não serem importantes. Investigamos juntos. Crescemos juntos. Choramos e rimos juntos. Não são apenas amigos, e uma forca sagrada que nos une.
E uma bencao tao grande, que ao mesmo tempo que essa sangha revive o ultimo encontro com fotos no Facebook, a sangha da Índia do ano passado agita um encontro, a sangha da Índia do ano retrasado posta fotos saudosas da viagem que parece ter ocorrido poucos dias atrás e a sangha da kundalini organiza o encontro para estudo..

Outro dia no satsang do Marco Schultz, encontrei duas amigas mitras que conheci há 2 anos atrás na Índia, e que não via desde então. O contexto do satsang requer silencio, e foi no nobre silencio em nos que percebemos que o encontro não precisava de palavras… Os olhares, os abraços e as lagrimas disseram tudo!


Ek Ong Kar… somos todos UM! Parece não haver tempo e espaço ou diferença alguma com uma conexão tao linda como essa. Honro todos aqueles que de alguma maneira fazem parte da minha vida, com profunda gratidão, pois sou uma extensão de cada um. Ate mesmo aqueles que por algum motivo me desafiaram. Talvez sou ate mais grata a esses do que aqueles que me fazem sorrir. Afinal, aprendi, amadureci e evolui. Sou sim, abençoada e agradecida por tantas cores que fazem da minha vida... um arco-iris repleto de potes de ouro!

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Relacionamentos Autênticos

 "Relacionamentos Autênticos" e o tema de um dos módulos do curso de aprofundamento para professores de kundalini yoga, no qual eu passei uma semana de imersão no ashram Prana Prana da querida mestra Subagh Kaur localizado nas reservas florestais da Serra da Cantareira.
Você deve estar perguntando o que seria "relacionamentos autênticos"?
Para 1 semana de curso afirmo que e um assunto profundo e complexo, por isso não me estenderei a nomear e discutir todos os conceitos.
Uma coisa e certa, parece que necessitamos de relacoes para nossa sobrevivencia. Desde a dependência dos primeiros anos de vida com uma figura materna, ate o fim das nossas vidas com diferentes pessoas e formas de se relacionar. O relacionamento faz com que nos conhecemos gracas a essa interacao. E como um espelho que e refletido o melhor de você e também o pior de você, sua sombra.
A autenticidade vem de uma certa consciência necessária para você estar inteiro, presente naquela relacao. Se temos consciência sabemos exatamente o que somos e o que projetamos na interacao com o outro por exemplo. Por isso, se relacionar com o outro sem nem ao menos se relacionar consigo mesmo e como andar na escuridão; você tropeça, cai sem saber por que, e acaba acusando sem ao menos enchergar. A auto-investigacao ou o auto-conhecimento, e fundamental para obter um relacionamento autentico com você e consequentemente com os outros.
Relacionamentos amorosos cada dia que passa esta menos autênticos na minha opinião. Ninguém mais tem paciência de se relacionar com o outro justamente porque não tem uma solida conexão consigo mesmo. A maioria esta tao presa ao ego que o discurso se torna: "o que eu quero no outro para me fazer feliz". Não! Relacionamentos não estão em prateleiras do supermercado e muito menos e para você. Adorei o blog de um americano que dizia "Marriage is not for you" (casamento não e para você). Não e mesmo. Casamento ou qualquer relacionamento e a respeito do outro e não de você. O carinho e o amor são doados, portanto nada fica para você, e sim para o outro.
E claro que a posse ou o controle acontece em uma relacao simplesmente porque são pessoas carentes de amor. E este amor eu classifico como amor menor, ou amor egoico. Relacionamentos autênticos e também a conexão que você tem com o Amor Maior, seja ele Deus, o Universo, a Natureza, ou qualquer forca maior que faz você inspirar todos os milésimos de segundos e que te inspira a viver.
Se não tivermos essa consciência dessa Forca e o que somos, fatalmente teremos dificuldades em nossas relacoes externas.
Somos também energia e temos um lado masculino e feminino. As mulheres por exemplo possuem 60% de energia feminina e 40% masculina. A energia feminina e a criatividade, a sensibilidade, a intuicao, a graciosidade e a capacidade de cuidar. A energia masculina e o racional, o estável, o guerreiro, e que esta sempre em acao. Ambos, homens e mulheres possuem todas essas caracteristicas, mas em diferentes níveis de intensidade. Portanto, a mulher 'e insegura por sua natureza e por isso que ela precisa de uma certa segurança da estabilidade masculina. O homem e como a haste de uma planta que da suporte, segurança, para os troncos crescerem, surgirem folhas, movimento e ate florirem. A mulher necessita dessa estabilidade para circular, intuir, criar.
Nos dias de hoje, os papeis masculinos e femininos estão confusos. Acredito que muitas mulheres estão oprimindo sua energia feminina com tantos deveres e acoes da energia masculina. E muitos homens não conseguem colocar segurança e ter acao de provedor. Não há nada de errado, as mulheres serem independentes, guerreiras, provedoras. Sou ate uma delas. O que me preocupa e se o lado criativo, intuitivo e os cuidados da mulher não esta sendo oprimidos com as exigências sociais de uma mulher moderna. E necessário um equilíbrio energético por isso tanto os homens quanto as mulheres precisam estar atentos a essas distribuicoes de energia.
Confesso que quando escuto as conversas de academia, conhecidos, pacientes, fico pensado em quantos tipos de relacionamentos existem por ai. Poucos são os autênticos.
No curso, Subagh nos presenteou com as estorias dos casamentos da religião Sikh, onde ate mesmo o sexo era com data marcada mesmo com anos de casamento. Dias de preparacao e horas de amor… Nem sei como definir sexo na nossa sociedade nos dias atuais.
Independente da cultura Sikh, fazer amor ou relacionar-se e estar por inteiro, na Presença, no aqui- agora, consciente do Amor que e você e reconhecendo o Amor no outro... doar-se na entrega do mistério como você confia que a cada expiracao vem uma inspiracao. O ego, o querer, as expectativas ficam pequenas quando você descobre o que e Amor…
Portanto relacionamento autentico, nada mais e do que Prem, o Verdadeiro Amor.




sábado, 9 de novembro de 2013

O Silencio


Desde criança o silencio me instigava. Talvez porque tinha problemas com palavras. Nunca conseguia (e talvez ate hoje não consigo) descrever exatamente o que passa dentro de mim.  Minhas brincadeiras era adivinhar o que as outras pessoas pensavam e pedia para meus irmãos adivinhassem o que eu estava pensando naquele momento, um ensaio de uma comunicacao por telepatia. Cresci ouvindo Rita Lee e ficava imaginando o que seria "fazer amor por telepatia" na minha cancao favorita de "Mania de Você". Introvertida e tímida na minha infância, relutei por um tempo a minha voz. Gostava de observar, sentir, e ouvir muito mais do que falar. Claro que a fala e tao importante quanto, mas sempre achei que havia um certo exagero, ou "barulho" no mundo. Achava que as pessoas falavam demais, que "enrolavam" muito mais do que se comunicavam. Fui aprendendo a "enrolar" na adolescencia, e me tornei mestra nas mais longas e detalhadas estorias para as minhas amigas intimas… E assim quando crescemos vamos perdendo o nosso grande mestre, nosso Eu.
Com o tempo, a yoga e a meditacao foi me ensinando a resgatar, compreender e aperfeiçoar o silencio. Afinal, pensamos que estar em silencio e apenas ficar calado e não damos conta aos "barulhos" internos da nossa mente. As vezes o barulho interno e maior que o externo e falhamos achando que estamos em silencio. Enquanto houver turbilhoes de pensamentos, nunca estaremos em silencio.
Na kundalini yoga, a maior parte das meditacoes utilizamos mantras, ate porque necessitamos dessa comunicacao entre mente e coracao através da fala. O mantra serve também para focar a mente, e a maneira mais simples e eficaz de não desperdiçarmos energia pensando em varias coisas ao mesmo tempo. Com a pratica, o silencio pós meditacao se torna o momento talvez mais importante para alcançar "shunia", ou seja, uma mente neutra, vazia e sem pensamentos, pois a mente foi condicionada a cada vez menos produzir pensamentos com o mantra e entrar em contato com algo maior do que seu ego.
Com ensinamentos do meu irmão budista fui aprendendo a meditar em silencio sem os mantras. Este ano no curso do Marco Schultz também. Fiz um compromisso comigo mesma de implementar o silencio nas minhas meditacoes diárias. E ate mesmo apos o retiro de silencio algumas semanas atrás, sinto necessidade da meditacao mais vezes ao dia.
O caminho para o silencio na realidade não importa. São vários caminhos para o mesmo lugar. Seja através de diversos tipos de meditacao, seja contemplando a natureza ou qualquer outra forma de amor e entrega.
Talvez a sensacao da infância de não conseguir me expressar, seja da tamanha grandeza e de um certo mistério que nos cerca. As palavras ficam pequenas em contato com o silencio verdadeiro.
O silencio para mim e um encontro. Quando você não se identifica mais com seu ego, com seus pensamentos, você passa a se conectar com algo maior do que você. Da mesma forma que você observa e contempla a natureza, existe um mistério ali que silencia, que basta. E posso dizer que a vida fica tao mais iluminada através do silencio ate mesmo nas suas relações cotidianas. Um olhar, um sorriso, um gesto, um toque comungando o silencio que existe em nos, na presença, no aqui-agora...



 "Vem. Conversemos através da alma. Revelemos o que é secreto aos olhos e ouvidos. Sem exibir os dentes, sorri comigo, como um botão de rosa. Entendamos-nos pelos pensamentos, sem língua, sem lábios. Sem abrir a boca, contemo-nos todos os segredos do mundo, como faria o intelecto divino. Fujamos dos incrédulos que só são capazes de entender se escutam palavras e veêm rostos. Ninguém fala para si mesmo em voz alta. Já que todos somos um, falemos desse outro modo. Como podes dizer à tua mão : "toca", se todas as mãos são uma? Vem, conversemos assim. Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma. Fechemos pois a boca e conversemos através da alma. Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo. Vem, se te interessas, posso mostrar-te" ... "Na verdade, somos uma só alma, tu e eu, Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti, Eis aqui o sentido profundo da minha relação contigo Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu..." (Rumi)