sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O encontro com a dança

Eu acho que desde que eu me conheço por gente, eu danço. Que criança nunca dançou ao ritmo de alguma musica? Quem nunca se rendeu aquelas vibrações sonoras que fazem seu corpo balançar?? Triste daquele que nunca dançou. Triste daquele que nunca se permitiu a vibrar junto a musica, de deixa-se ser levado pelas diversas notas, pelos mais diversos ritmos. A dança ‘e aquele momento de expressão. O momento que você tem consigo mesmo explorando os mais diversos movimentos, de criar junto a musica uma coisa só, conexão. Assim como o Universo dança e tudo ao nosso redor se movimenta, nos também dançamos com Ele. Uma entrega ao desconhecido.
Não conheço ninguém que nunca dançou mas conheço muitos que dizem não saber dançar. E aí me pergunto se ‘e preciso saber alguma coisa para poder dançar. Penso que a confusão vem quando a mente tenta copiar, comparar ou julgar seus próprios movimentos. A dança não vem da mente, a dança vem da alma. A sua alma que dança, então esqueça da sua mente. Esqueça o que é certo ou errado, bonito ou feio.
A dança ‘e, minha maior professora. Ela sempre vem me ensinar a deixar a mente de lado, a me soltar mais, a me entregar mais ao meu corpo, a ouvir o meu corpo. Acho que nunca ouvia meu corpo antes de dançar, mas agora danço consciente. ‘E minha meditação, e minha maneira de expressão, terapia. ‘E na dança que conheço todos os meus bloqueios físicos e emocionais. ‘E se entregando mais a ela que conheço o meu profundo eu, luz e sombra, medo e coragem, insegurança e autenticidade, raiva e liberdade, amor e ódio, ilusão e consciência.
Não existe aquele que não saiba dançar mas existe aquele que tem medo de ser inadequado. E esse sentimento de inadequação ‘e que nos faz distanciar-se cada vez mais da nossa autenticidade, do nosso verdadeiro eu.
Se somos criaturas divinas e não expressamos quem somos então o que estamos fazendo? Tentamos desesperadamente nos moldar a uma sociedade para nos sentirmos mais seguros, mas será que esta segurança ‘e real? Cada vez que procuramos respostas no mundo externo fugimos de nos mesmos. A mesma coisa acontece quando queremos dançar igual a outra pessoa. A dança, assim como qualquer outra forma de expressão ‘e sua e unicamente sua! Não tem ninguém que possa roubar a sua dança de você, assim como não tem nada e ninguém que possa te anular desse mundo.

Então foi assim que com a dança eu comecei a me aceitar mais, a sentir meus medos para assim liberta-los. A reconhecer todas as facetas do meu ser respirando, aceitando, entregando, girando. E que a cada dia que passa, vem menos a mente e mais o coração para me dizer o quanto esta tudo bem, o quanto tudo lá fora esta aqui dentro, que o Universo gira e eu rodopio junto, e que nessa conexão não existe mais nada, apenas profundo amor.


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Quem realmente somos?

Hoje acordei saudosa. Sonhei com meu querido guru californiano. Aquele mesmo, o do turbante e o violão. :) Sonhei que estava no Solstisticio de Verão nos EUA. Muita musica, yoga e meditação, e ele com aquela carinha animada e disposta que acordava a todos antes do amanhecer com sua cancão: 

Rise up, rise up, sweet family dear
A time of the Lord and remembering'
Love is here
Love, love is all you'll say
If you'll awake and rise up right away...
https://www.youtube.com/watch?v=Qf1GpYzAwRU

Então, meu sadhana de hoje começou diferente já que a musica não saia da minha cabeça e a presença dele estava tao forte. Cantei e meditei ao som do Guru Singh enquanto vários flashes da época em que morava praticamente no seu estúdio de yoga em Los Angeles vinham misturados com lagrimas e sorrisos. E de repente aquele Amor veio quente no meu coração. E o que era saudade virou realidade, presente. Não havia tempo nem espaço entre nos. Não havia separação ou falta de alguma coisa, havia sim plenitude, gratidão, amor e união. Sim! Gratidão por estes momentos de perfeita união com o todo. 
Apos meu sadhana, a mente curiosa e ainda insatisfeita foi procurar na internet quando começava o solstício e não me surpreendi ao ver que hoje 'e o dia da chegada de todos os inscritos para o maior evento de Kundalini Yoga.
Como explicar esses Mistérios do Universo?
Na Kundalini Yoga dizemos que todos os professores estão unidos por uma corrente dourada que e sustentada e nutrida por todos os gurus antepassados, e pela energia cósmica. E se meditamos para fazer parte e entender como o cosmos rege com nossa própria energia, porque não tudo e todos também fazer parte de uma corrente?
E a tal sincronicidade? Pois 'e, quando abro o Facebook esta manha, os primeiros posts que vejo são do encontro de Kundalini Yoga semana passada em Brasília, relato e mensagens de amigas que estiveram la e se lembraram de mim. Que delicia! Por um momento me senti la também! :) E um post lindo de uma amiga descrevendo tao bem a necessidade do silencio em nossas vidas. Claro, se não fosse pela meditação esta manha, ou de todos os dias, certamente iria cair no drama do saudosismo de LA e do Guru Singh, me apegando a fatos e circunstancias do passado. Divino e se dar conta e saber que quando aquietamos a mente, criamos espaço para o todo ser TODO. Assim não há separação eu- guru, eu- solstício, eu- Los Angeles, eu-amiga, eu-você, eu- Universo.
Parece que o coracao se enche de mais amor quando enxergamos todas as pessoas, lugares e situações da vida fazendo parte de você também no momento presente. Esta tudo certo. Por onde andei, quem eu conheci, de alguma maneira existe dentro de mim. Pois eu sou um reflexo do que eu escolhi, como me conectei, o que eu atrai e como vibro essa energia.
Por isso agradeço aos espelhos da minha vida. A todos os professores, sejam eles humanos, animais, vegetais, minerais e energéticos. Ao poder de sentir, pensar e usar todas essas leis ocultas.
E depois de passar tanto tempo sem escrever no blog, justamente por ser tao pessoal, e  este post também não e diferente, mas sim, há uma necessidade de registrar e me lembrar todos os dias dessa conexão e da profundidade de quem realmente somos. SAT NAM!
https://www.youtube.com/watch?v=6dEfFFVtyuQ


quarta-feira, 8 de abril de 2015

Luz e Sombra como Potencialidade do Ser

Precisava de uma imersão a Natureza pos India, entao fui sozinha para o meio do mato. Durante uma caminhada em uma trilha avistei uma linda cobra se aproximando de uma pequena casa, peguei uma vara e com todo amor e cuidado, na tentativa de leva-la para dentro da reserva florestal, fui contrariada e agredida por um homem que me surpreendeu e tirou ela de mim matando-a num piscar de olhos bem na minha frente.
Furiosa e muito triste, corri para o meu destino o qual era uma cachoeira em busca de um refúgio para me acalmar. Me aproximando das rochas úmidas, totalmente desconectada de mim, com o coração e mente acelerados, levei o maior tombo! Na hora entendi o recado, a raiva foi diminuindo, a mente foi clareando e voltei pela mesma trilha para encontrar o homem. 
Com o calar dos meus julgamentos e com coração mais aberto perguntei a ele porque tinha feito aquilo e a resposta foi que uma vez uma cobra quase matara sua filha. Ficamos um tempo conversando, ele cuidando dos meus ferimentos e eu dos dele ouvindo sua dor, compartilhando medos e tristezas, sombra e luz. 
Encontrar aquele homem foi como ter deparado com todas as minhas rígidas crenças, meus julgamentos, e medos. Foi um encontro marcante de libertação e compaixão. 
Apos o incidente voltei para SP e fui examinar meu pe onde conheci uma funcionária do hospital que fez o procedimento de raio X e a qual me perguntou do nada se eu estava meditando na cachoeira. Comecei a rir porque estava fazendo tudo menos meditando naquele momento e que ainda bem que tinha caído para me lembrar de voltar ao momento presente. Ela não satisfeita, ainda me perguntou se eu era alguma espécie de terapeuta tântrica. Olhei para ela calada impressionada com a conexão daquela mulher, que mal sabia que estava retornando de uma imersão de Osho e tantra na Índia. Aquela doce mulher não parava de me elogiar e falar da luz que eu emanava. E tudo que eu pensava era "uau.. Achei que só na Índia acontecia isso!" 
Enfim, graças ao meu dedinho do pe quebrado tive a benção de conhecer 2 pessoas fantásticas, professores, reflexos da sombra e luz que reside em nós! Cada dia que passa tenho a comprovacao que todos nós somos Um! Somos divinos, espelhando medos e belezas. 
E que a cada Namaste, reverencio com profundidade conectando eu, o outro, o todo! E que espero na próxima vez ao entrar na cachoeira esteja de pés firmes no chão, aceitando a realidade como ela é e não como eu gostaria que fosse, para então me conectar com o meu ser divino e com toda a divindade ao meu redor! Mas se cair novamente, que assim seja, bendita lição, que faça uma nova rachadura para abrir o meu coração!

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Osho International Meditation Resort

Segui viagem de Goa a Mumbai, e no dia seguinte fui de carro a Puna ao meu grande destino, o Osho International Meditation Resort. Estava apreensiva com uma mistura de sentimentos. Já tinha escutado tantas criticas mas no fundo eu sabia que era exatamente aquilo que eu precisava.
Logo na entrada fui acolhida por um dos assistentes que fez uma brincadeira sobre os brasileiros, o que me pareceu que éramos muito bem recebidos naquele lugar. Ele me conduziu ate outra sala para que eu preenchesse formulários, comprasse os dias de entrada e fizesse o teste de HIV. Este teste que me atormentara meses, com mil fantasias do que me esperava naquele lugar com "um bando de loucos" (era a expressão que tinha escutado de um amigo). Mal sabia que talvez eu pudesse ser a maior "louca" de todas... rs
Enfim, apos meu cartão de entrada ficar pronto, me dirigi a loja para comprar os famosos robes vinho e branco. Durante o dia usamos o robe, ou bata, vinho e a noite para a atividade noturna, o branco. Tive uma reunião para explicação de todas as atividades e meditações, e aquilo tudo parecia para mim um parque de diversões de tantas atividades acontecendo ao mesmo tempo com milhares de pessoas circulando no seu robe vinho. Haviam inúmeros cursos que poderia me inscrever enquanto estava la também. Levei a lista e fiquei pensando qual curso escolher.
A primeira meditação que fiz apôs toda a introdução foi a Kundalini Meditation. Essa meditação acontece todos os dias a tarde no auditório principal que e uma pirâmide gigante. La não e permitido nenhum som, mesmo se estiver com vontade de tossir ou espirrar, aconselham a sair da sala o mais rápido possível. Fiquei fascinada com aquela pirâmide e estava começando a adorar a ideia dos "uniformes". Me sentia na estória da Morgana ou alguma feiticeira medieval dentro daquela imensa construção com meus coleguinhas bruxinhos. A Kundalini Meditation consiste em 4 estágios: sentir a energia subir e permitir movimentos como um tremelicar e ao som da musica deixar o movimento fluir, a dança espontânea, a meditação sentado ou em pé, e o shavasana ou relaxamento deitado. Para mim que já pratica a Kundalini Yoga há mais de 10 anos, aquela meditação foi um prazer imediato. De repente estava tao feliz e já flutuando.
Apos o banho e com o robe branco me dirigi a piramide novamente para o encontro noturno. La comecavamos dançando com pequenos intervalos para enraizar o pé no chão e tomar consciência do seu plexo solar e com os bracos levantados gritávamos "osho", o que poderia ser qualquer mantra, já que a intenção era se conectar com sua forca interior. Apos a dança uma meditação seguido pelos ensinamentos do Osho no video. Apos os ensinamentos, acontecia o gibrish onde tínhamos que inventar uma língua e de maneira catártica e fluida deixar acontecer. Pausa para meditação no qual o Osho sempre lembra para sermos nossos próprios observadores, ate na hora de simularmos a morte (sem mente, sem corpo) e despertarmos como Buda. Por fim, dança novamente.
Apos o jantar vi que tinha um pessoal dançando na plaza e fui conferir. Adorava como as pessoas dançavam, desprendidas de qualquer julgamento e facilmente me interagi na pista de dança. Ainda insegura do ambiente e tentando captar a vibe do lugar preferi ir para cama cedo.
Dormi feito uma pedra e na manha seguinte as 6am começava a meditação mais importante do dia, a Dynamics Meditation. No wonder it calls dynamic... Uma meditação ativa de 1 hora começando com uma respiração do fogo ou kapalabati não ritmada usando o corpo para ativar a respiração por 10 minutos, depois 10 minutos gritando, chorando, rindo ou imitando uma criança, 10min pulando com os bracos levantados, sola dos pés batendo no chão com o mantra Ho, 15min de estatua congelando o corpo onde parou no toque do sino e 15 minutos dançando. Sai de la pingando, encharcada, como se tivesse saído de um banho. Aquilo para mim ainda era muito esquisito e não estava conseguindo entender os benefícios das meditacoes exceto o da kundaini que virou minha preferida nos primeiros dias.
Apos o banho e o cafe era hora de optar por qual atividade seria a minha rotina durante aqueles 15 dias. Escolhi o zen archery (arco e flecha zen) e o tai chi. Praticávamos no Buda Grove, uma construcao de mármore ao céu aberto cercado por bambus onde o Osho costumava dar seus ensinamentos. Hoje em dia era o local de algumas atividades diurnas e o Dance Celebration que acontecia no fim da manha. O Dance Celebration, já o próprio nome diz, reunia todas aquelas pessoas vindas de todas as partes do mundo com musicas de diferentes países.
Aos poucos fui entendendo que o Osho dava a importância para as pessoas liberarem sua criança interior, e todos os prazeres mundanos como o Deus grego Zorba. Segundo ele, todo o ser humano encarnado deve aproveitar suas condições de humano e usufruir de todos os prazeres, para então ser um Buda. Então fui percebendo que muitas pessoas ali estavam para serem Zorba, curtindo a piscina, a quadra de tênis, dançando, bebendo, fumando, transando. E pessoas mais interessadas nas meditações ativas e nos cursos. Conforme os dias foram passando fui me acostumando com a ideia e respeitando todos sem julgamentos. Assim como vivemos e interagirmos com pessoas de todo o jeito, assim como qualquer ashram na Índia que as vezes se assemelham com "hospitais psiquiátricos", assim era também o Osho, pessoas apegadas ao prazer e pessoas em busca de algo a mais.
O que mais me cativava era a alegria de todos. O dia inteiro a gente dançava, e as meditacoes ativas cada vez mais fortes trazendo insights. Era um insight atrás do outro e como psicologa estava adorando as maluquices das meditacoes justamente porque liberavam todas as couraças corporais, traumas que ficam enraizados no nosso campo físico.
Patanjali dizia que o centro da personalidade humana esta no coração. Osho diz que a civilização moderna fez com que o centro se locomovesse para o cérebro pois hoje em dia nos somos muito mais racionais. As meditações ativas segundo o Osho servem para mover o centro do cérebro para o coração, de onde acontece todas as catarses, e onde curamos traumas que nem mesmo temos consciência pois como seres racionais não nos permitimos sentir. Lembro que na minha época de faculdade eu amava estudar Lowen e Reich justamente porque eles davam essa importância do quanto nosso corpo acumula sentimentos e traumas formando essas "camadas de mascaras" e o quanto durante a vida isso vai piorando se não houver uma conscientizacao e acao nesse trabalho corporal já que a mente, corpo e alma estão correlacionados. Concordo com o Osho e por isso dou valor as meditações ativas assim como a kundalini yoga ou kryia yoga que servem como limpeza de toda essa couraça que nos defende dos nossos medos e traumas.
Escolhi fazer um curso chamado Tantra Pulsation com a Prabodhi (excelente facilitadora que estará em SP em maio!!), onde aprendi a me conectar mais comigo mesma e com o outro, através de exercícios de respiração, dança espontânea, e meditação ativa olhando nos olhos do outro. Foram dias doloridos, pois alem do curso era sugerido fazer as 2 meditações ativas no auditório: a Kundalini e a Dynamics, mais o encontro noturno. E foi ai então que percebi o verdadeiro efeito das meditações, o porque das gritarias, o porque do choro, do riso, da morte, e da fala espontânea em uma língua criada por você. Foram inúmeros insights. Anos de terapia e não tinha dado conta de tantos sentimentos e travas que me aprisionavam, talvez um trabalho constante na categoria de seres humanos. Tudo o que fazia saiam lagrimas, foi uma limpeza absurda. As meditações foram ficando mais fáceis e mais leves, conseguia sentir a energia kundalini muito mais poderosa. O apoio do grupo foi me confortando e curando também, me permitindo a amar não só eu mesma, a Mãe Terra e o Universo, mas a descobrir o amor nos olhos de um companheiro. As danças que no fim meu corpo não conseguia mais parar de dançar, assim como os giros sufis que girava horas, sim horas sem parar em puro bliss. A pratica de tai chi e o zen archery foram ficando cada vez mais suaves com a mente muito mais neutra e o corpo leve peso pluma.
Dizem que 1 semana no ocidente equivale a 1 dia no oriente, eu não sei, mais sempre que estou na Índia me sinto mesmo em outra dimensão, parece que minha alma diz "ok, hora de trabalhar". 'E tudo tao intenso, profundo. Ate agora não consigo entender como foram apenas 15 dias... sinto que foram 5 anos e de terapia constante!
Foi difícil partir pois estava tao acostumada com a rotina e os amigos, mas tive uma surpresa quando cheguei ao aeroporto rumo a Amritsar com escala em Delhi, e o voo tinha sido cancelado por conta da neblina em Delhi. Iria a Amritsar para visitar o Templo Dourado, me encontrar com o querido Marco e a sangha, agradecer a todos os mestres Sikhs por todas as bencaos... Mas acho que o Osho não me deixou partir, ou talvez minha alma pediu para ficar mais alguns dias desfrutando de tudo aquilo, um pouquinho de Zorba, um pouquinho de Buda, dançando, girando, agradecendo, agradecendo, agradecendo... sim sim sim... para voltar mais leve, mais em sintonia comigo e todos, e para expandir toda essa energia sendo nos meus retiros e workshops ou ate mesmo num simples olhar. Namaste!

www.osho.com
http://www.oshopulsation.com/prabodhi-mildenberg.html
http://www.koerperreich.com/deutsch/page5/page6/index.htm

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Yoga Magic - Goa, India 2015

Dezembro... la estava eu novamente embarcando para a Índia! Dessa vez, um novo chamado. Não estava a procura de um ashram para receber as maravilhosas bencaos de um guru, meu coração e alma pediam movimento e expressão. Queria aprender mais sobre a dança,  meditação ativa e a yoga como forma de expressão do Ser.
Esta viagem tiveram 2 destinos: Goa por alguns dias e Puna.
Escolhi Goa por dizerem ser uma cidade totalmente diferente da Índia, uma região colonizada pelos portugueses e a fortíssima influencia católica na região. Goa 'e conhecida pelas lindas praias, feiras indianas, e por ser o berço da musica Trance. Mas o meu forte interesse em Goa era conhecer uma eco-vila chamada Yoga Magic, o qual encontrei seu destaque no livro "Great Retreats- Yoga".
Com poucas informações, fui com uma amiga me aventurar na praia de Arjuna.
Quando chegamos nos deparamos com acomodações rústicas, o que nos desafiou nas primeiras noites mal dormidas por conta dos diversos sons de pássaros e animais, pela preocupação das redes de mosquito instaladas nas camas e pela claridade que entrava nas primeiras horas do dia. Mas foi facilmente superado com a rotina do retiro e a amorosidade dos funcionários que nos fizeram sentir em casa.
O casal de ingleses proprietarios do espaço, Ishi e Phil, apos muitas viagens a Índia seguindo os ensinamentos de Babaji (Jangalidas Maharaj) e Shirdi Sai Baba tiveram um forte chamado de construir seu "pequeno ashram" em contato a natureza e praticas regulares de yoga para seus hospedes. Ishi dava 2 aulas diárias de yoga (exceto nos dias de feira que atraia vários turistas) enquanto Phil ficava encarregado da administração do espaço.
Nossa rotina era meditação de 45min iniciando sempre as 6am nas salas rústicas de adobe e sape, seguido por um intervalo de chá, jala neti (tecnica do yoga para limpeza pela cavidade nasal), e a pratica de yoga na qual exigia muita atencao para não pisar nas amiguinhas minhocas que adoravam caminhar pelos tapetinhos de yoga.
As refeições vegetarianas eram simplesmente maravilhosas... E durante o dia tínhamos que garantir nosso lugar na agenda do concorrido Vishnu, um massagista indiano que segundo a lenda curava qualquer tipo de dor. A tarde tínhamos outra pratica de yoga com a Ishi, e entre as praticas, massagem e minhas próprias meditações, gostava de ficar ouvindo o Phil contando suas estórias do Babaji.
Tinha contado para o Phil que seguia sozinha a Puna para aprender as meditacoes ativas do Osho, e ele carinhosamente queria me convencer de que eu deveria conhecer seu guru. Guardei todas as informações do ashram mas no fundo sabia que não iria precisar.
Foram dias nutrindo o corpo, a mente e a alma. Comemoramos o reveillon num restaurante grego muito animado, mas o mais lindo era observar os casais e as famílias indianas nas mesas e na pista de dança. A minha admiracao por essa cultura cresce a cada viagem que faço... A pureza em cada olhar, em cada carinho, na dança, e em cada sorriso faziam com que meu coracao se enchesse do mais puro amor.
Visitamos o centro de Goa, a Velha Goa e suas catedrais estilo barroco que se assemelham muito com as nossas. As praias no norte de Goa também tem muita influencia europeia, com tendas, lojas e restaurantes excelentes.
No ultimo dia, tivemos uma surpresa com a vinda de um ator britânico famoso no Yoga Magic. Na verdade para mim foi uma lição, ou aqueles "insights indianos", o primeiro deles... Porque eu nunca gostei de nenhum filme dele, para ser sincera eu o achava um "idiota" e mesmo nas entrevistas me questionava o porque daquele sujeito fazer tanto sucesso... e la estava ele, jantando a mesa ao lado, meditando com o grupo, fazendo a mesma rotina, com uma suavidade no olhar e um tal magnetismo que aos poucos fui desvendando o mistério de seu sucesso... o golpe fatal foi perceber uma de suas tatuagens, o símbolo do Sikhismo... Fiquei sem palavras, mas fazia todo sentido. E para mim, ficou mais uma vez a questão dos rótulos e julgamentos fruto das armadilhas da nossa mente e do nosso personagem. Como e libertador sair do conceito, da ilusão, da ideia formada. Sem querer cair em outra armadilha, rotulando o nosso famoso ator novamente, não quis perguntar sobre a tatuagem ou fazer uma nova estorinha. Simplesmente segui meu caminho, em direção a Puna com gratidão aos meus mestres Sikhs por criarem mais espaço na minha mente e no meu coração...

http://www.yogamagic.net/

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Peregrinação e Auto-Conhecimento nos Andes com Marco Schultz

Voltei há pouco tempo de uma das viagens mais preciosas da minha vida. Neste momento me desafio a colocar em palavras todo aprendizado e processo desde o dia que cheguei ao solo sagrado andino.
Estava programando esta viagem há alguns anos com meu querido mentor Marco Schultz, e finalmente este ano pude realiza-la. 
Foram 15 dias intensos com visitas a ruínas, contato com a cultura inca, yoga, meditação, xamanismo, e profundo auto-conhecimento em 4 dias na trilha de Salkantay. De Cusco, ao Vale Sagrado, ate a deslumbrante chegada a Macchu Pichu com uma linda turma de 27 integrantes.
Fiquei encantada ao chegar em Cusco. Uma cidade linda, com varias praças, ruas de paralelepipido, catedrais, vista para as montanhas, e uma mistura de turistas e comerciantes pelas ruas que deixava a cidade ainda mais interessante.
A visita a Cusco foi estratégico para o processo de aclimatação a altitude. Já no aeroporto nos ofereceram folhas de coca e na recepcao do hotel o chá de coca era servido a vontade. Mesmo tomando todo o cuidado pude sentir tonturas e dores de cabeça nos primeiros dias. A falta de ar estava presente nas caminhadas as ruínas.
Os dias em Cusco foram também de muita cultura com guias maravilhosos. 
Para os Incas, existiam três níveis espirituais, o mundo de cima, conhecido como Hananpacha (o mundo dos espíritos), o mundo do meio, conhecido como Kaypacha (o mundo dos homens) e o mundo de baixo, conhecido como Ukupacha (o mundo dos mortos). Os Incas criaram então a trilogia andina, representada pelo Condor, Puma e Serpente, animais muito sagrados, e cada um destes animais trabalhavam como guardiães dos mundos supra citados, onde o Condor era o guardião do mundo de cima e mensageiro entre céu e terra, o Puma do mundo do meio e representa a forca da terra, e a Serpente do mundo de baixo que representa a sabedoria. No tempo dos Incas os homens viviam entre os três mundos e se relacionavam com eles através da trilogia totêmica, dos animais sagrados. Porém, com o tempo, o homem se isolou e perdeu a conexão com todos os mundos, inclusive com o seu próprio mundo. Dai então, vem o ensinamento da sociedade secreta "Orden del Condor de Los Andes", com uma proposta de resgate da alma, nos transmitindo a "Visão do Condor".
Pacha em quechua significa Terra, por isso o termo Pachamama, A Mãe Terra. Os Apus são espíritos das montanhas que não deixam de ser também um filho de Pachamama. Na visão dos andinos as montanhas são seres viventes, com um corpo físico que respira, tem esqueleto, pele, sangue e espirito. Por isso, subir uma montanha andina, não exige apenas do físico e mental, mas sim esta comunhão sagrada entre Pachamama e Apus. 
Aprendemos a fazer oferendas a Pachiamama de acordo com um principio quechua muito valioso, a reciprocidade. Oferecíamos 3 folhas de coca, e com um sopro colocávamos nossos desejos.
Já no Vale Sagrado tivemos um momento de mais introspeção em Wikka Tica, um pequeno ashram da querida californiana Carol que teve uma visão e transformou um terreno rochoso em um imenso jardim de arvores, flores e plantas de diversos países, divididos por cores representando os chakras.
A sensacao que tive quando pisei em Wikka Tica e que ja havia estado la. Não sei como mas nas minhas praticas de Yoga Nidra, o jardim que me imaginava para relaxar e conectar estava la! Foram dias de imersão com consultas com nosso amado xama, Sandeh, tratamentos terapêuticos, praticas de yoga, meditação, e muita contemplação a Pachiamama.
Marco pediu para que eu desse uma aula de yoga numa manha, e com muita honra e gratidão escolhi oferecer uma pratica de Kundalini Yoga, já que aqueles jardins nos remetiam a cura de nossos chakras, a simbologia da serpente na trilogia andina, e a espiral que simboliza Pachiamama e que havíamos visto desenhados e construídos com rochas em todos os locais de poder inca. Como se os incas soubessem do poder da energia kundalini dentro de nos assim como o poder de todo universo. Vale uma pesquisa da relação inca com o surgimento da simbologia da kundalini que e representada pela espiral e a serpente. Talvez, e por que não, os incas foram os grandes primeiros yoguis??...
Inspirada a véspera da trilha de Salkantay, fizemos um ritual em uma das espirais, local de poder inca, onde batizei meu cajado com o nome "fé". Fizemos uma cerimonia xamanica também para nos proteger nos dias seguintes de trilha. Estava "preparada", assim achava. Atleta e ex-corredora de montanha, estava segura em relação ao meu condicionamento físico e experiência do que levar em situações climáticas adversas. A minha única preocupação era a altitude. 
A noite, véspera do primeiro dia de trilha, não consegui dormir ardendo de febre, passando mal com diarreia e vomito. Dormi por meia hora e levantei sem febre um pouco antes da hora marcada para saída. Fraca e debilitada pela noite anterior, não conseguindo comer ou beber nada pois ainda estava passando mal, caminhei durante o dia no nosso primeiro trecho ao lado do meu cajado "fé", entoando os mantras de proteção da Kundalini Yoga, avistando a montanha de Salkantay de longe, e pedindo para que Pachiamama e Apus me levassem. Já nesse primeiro dia de trilha, tantas fichas caíram... aniquilando meu ego, compreendi de que nada servia ser uma atleta para subir aquela montanha afim de chegar a terra sagrada de Macchu Pichu. Precisei de todo esse processo de sacrifício e limpeza para me dar conta de muita coisa.
Como se não bastasse o sacrifício do primeiro dia, amanheci bem melhor mas fui comunicada logo cedo que faria o primeiro trecho da trilha para o lago a cavalo para poupar energia para o terceiro dia que era a subida ao glacial. O grande problema do dia, era que desde os meus 16 anos de idade não me aproximava de cavalo algum por causa de um grave acidente que tive naquela época. Tentei convencer Marco e Sandeh que iria a pé, mas não teve jeito, todos nos sabíamos que teria que enfrentar o trauma, e aquilo fazia parte do processo. Não sei quanto tempo durou mas pareceu uma eternidade montar naquele cavalo. Revivi todo o acidente, um medo incontrolavel. Enfim, consegui ir me acalmando com as palavras do xama dizendo que eu era como um cavalo mas que naquele momento eu precisava da forca daquele animal. Fui interagindo com a energia dele e ao final do trecho parecia uma criança expressando minha gratidão com abraços e carinhos. Na chegada ao lago, uma visão indescritível, apenas contemplação e gratidão. Estava começando a entender que bencao e que oportunidade Pachiamama e Apus estavam me proporcionando. Apenas havia uma frase em minha mente, a frase do Prof. Hermogenes: " Eu entrego, confio, aceito e agradeço". 
No terceiro dia, mais forte apesar de ainda estar passando mal continuei caminhando com meus mantras e quando avistei a montanha se aproximando passou todo mal estar e parecia nova. Quando cheguei ao topo de Salkantay, senti uma energia incrível... ri, chorei, orei. Pedi para que Deus me confirmasse que estava ali, e veio o som das rochas do topo cobertas de neve rolarem montanha abaixo. Comunhão. Sim, sim, sim... Precisei de toda limpeza, como uma serpente que descasca e troca sua pele, aos passos de puma, forte e valente, para conseguir enxergar com olhos de condor o alem do alem, do alem...
Ao finalizar no quarto dia, completando aproximadamente 80 km de trilha, depois de passarmos por glaciais, mata, cachoeira e rio, chegamos ao nosso destino: Machu Picchu. Arrepio novamente só de lembrar da energia daquele lugar sagrado, que fomos recebidos com uma chuva auspiciosa na qual comemorei apôs meu renascer, este lindo batizado.
De volta pra casa, a vida segue, porem ainda mais expandida. Grata por cada momento, por cada licao, e pelo Amor Maior que não cabe em palavras... Apu!


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Vedanta

Outro dia tive a honra de ouvir a professora Gloria Ariera que deu uma aula sobre Vedanta no encontro do Grupo de Estudos e Evolucao da Consciencia e Meditacao em Sao Paulo.
Ela comecou explicando a origem, as ligacoes e relações desde a dança ate ayuverda com o Vedanta. Vedas significa "conhecer" e são escrituras sagradas do hinduísmo por volta de 1500a.c.
Segundo as escrituras nos tivemos e teremos diversas encarnações no plano terrestre. E voltamos para relembrarmos quem realmente somos. Como se faltasse um chip na nossa memória, esquecemos de tudo e viemos para este plano, no jogo de ilusões, onde pensamentos e emoções são criados pela nossa mente, e quanto mais somos dominados pela nossa mente, mais nos afastamos do nosso verdadeiro eu. Como se fosse um jogo, ou uma "lila" como dizem os hindus. E a magica da vida, e tirar todas essas camadas que nos aprisionam no personagem ou ego, para o encontro do grande mistério do infinito Eu.
Gloria explica que os "samsaris" são aqueles que vivem em constante altos e baixos, em "samsara". Sao aqueles presos nas necessidades básicas, ou seja, segurança e nos prazeres. Sao aqueles movidos por emoções. Aqueles que começam a ter Consciencia e questionar a vida e sua existência, são os yoguis. Os yoguis são aqueles que aprofundam no auto-conhecimento e investigam o Ser, são os peregrinos de alma que estão dispostos a se libertar de todas as camadas que ele próprio construiu durante sua vida.
De volta para casa apôs o encontro com a Gloria, fiquei pensando quando foi que eu me tornei uma yoguini, quando foi essa "rachadura" que abriu espaço na mente para tal consciência. Sempre tive a personalidade investigadora e o fato de escolher Psicologia como profissão e mergulhar no auto-conhecimento favoreceram a mente aberta. Porem, a "rachadura" mesmo foi quando ja alguns anos morando nos EUA, decidi mudar para California, e na época fazendo meu segundo mestrado em Terapia Familiar, decidi praticar Kundalini Yoga em um estúdio localizado em uma comunidade Sikh. Como ja disse em outros posts, foi ele, Guru Singh, meu primeiro querido e maravilhoso Babaji, que me ensinou tudo o que eu precisava saber para ir alem. Foi o melhor professor de qualquer mestrado, porque foi ele quem ensinou o que e família, o que e amor, e o que e servir. Sim, ele foi o grande "culpado" para muitos que falaram na época "o que aconteceu com aquela Patty?" Os anos se passaram e muitos mestres surgiram. Marco Schultz por exemplo que aprofundou ainda mais a minha peregrinação no "esquecer menos, lembrar mais" e faz parte da minha investigação do Ser hoje.
Este ano em Fernando de Noronha, me deparei com os samsaris curtindo as festas e contribuindo para  uma lenta destruição de uma reserva ecológica. Foram dias de sofrimento porque hoje em dia minha relação com os animais e a mae natureza se fortaleceram muito, e porque eu me vi ha anos atras assim como essas pessoas, sem consciência nenhuma, presa nas emoções e o que os outros diziam que era bacana. Talvez tivesse sido um teste para eu ter mais compaixão e paciência, não so por todos aqueles golfinhos e tartarugas que estão indo embora, mas por todas as pessoas que assim como eu, não querem o mal, mas apenas estão limitados a emoções e prazeres de samsaris, assim como estive um dia.
O caminho de um yogui, e um caminho sem volta. Não da para voltar a ser uma pessoa sem consciência. A cada dia são ensinamentos novos, são maneiras diferentes de resolver um problema, de olhar o mundo, de se relacionar com as pessoas e a natureza, de enfrentar suas próprias limitações, e ate quando voce acha que não tem abertura suficiente para perdoar e amar, este perdão e amor vem através de voce. E um desejo constante de investigação, iluminação, integridade. Um desejo de desvendar o Grande Misterio, honrando e acolhendo o karma, vivendo com mais consciência e, procurando realizar o dharma com muita fe e amor.